Para Refletir

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

DIVAGANDO...


Nós, seres humanos, somos naturalmente afetivos. Queremos amar, queremos ser amados, queremos expressar o nosso amor e termos liberdade para essa expressão. A nossa vida gira normalmente à volta dos nossos afetos e a maioria das atitudes que tomamos na vida tem por base uma relação afetiva.

Repara, por exemplo, como te enches de expectativas com os teus relacionamentos. Repara como se esse lado da tua vida não está bem, todo o resto parece não ter muita importância. Será que és uma pessoa disposta ao amor, disposta a ter um relacionamento verdadeiro, ou só estás disposto a te relacionares com os teus sonhos e as tuas ilusões de viver um grande amor? Temos tantas ilusões dentro de nós que fica difícil relacionarmo-nos com os outros.
Como aceitar o outro se não nos aceitamos a nós próprios? Como permitir que o outro seja ele mesmo, se nós não nos permitimos ser como somos. Deixamos os nossos sonhos tomarem conta de nós, idealizamos um relacionamento e quando entramos em contacto com o relacionamento real ficamos dececionados, magoados.

A mágoa vem do orgulho, vem das fantasias que temos, essa ilusão de perfeição, de que tudo tinha que ser como eu imaginei e não é. Vem de crenças que é o outro que tem de me fazer feliz. Ofendemo-nos, ficamos magoados, generalizamos posturas e experiências. Dizemos que “é sempre assim”, que a felicidade não existe, etc. Impedimo-nos de ir, continuamos feríveis, cheios de defesas, cheios de medos, receosos. Com medo de sofrer, sofremos. Acabamos a reclamar de carência afetiva, de solidão, sem atentar ao facto de que carente não é quem não tem amor. É aquele que tem, mas não dá com medo de ser magoado, que a solidão é a distância que sentimos de nós mesmos, pois deixamos que as ilusões e os sonhos nos coloquem longe da nossa verdade.

Não é o mundo que está seco e distante. Somos nós que estamos assim no mundo. Não são as pessoas que nos magoaram ou nos dececionaram. No meu caso, fui eu que me enchi de sonhos e esperei que o outro cumprisse o roteiro que eu fiz para ele. Será que tu és capaz de perceber e aceitar que também fizeste isso? Será que és capaz de aceitar o que passou na tua vida? Será que fizeste um pacto com o teu infeliz e que tudo tem que ser difícil para te castigares pelos teus enganos?

O medo de amar está presente porque não deixamos o passado passar. Não aceitamos que fomos incapazes de lidar com a realidade porque estávamos presos aos nossos sonhos. Quanto mais sonhamos, mais sofremos. É o que costumamos dizer: “Quanto maior a subida, maior o tombo”. Chamamos de desgosto, de trauma, dramatizamos, tudo foi terrível e a culpa é sempre do outro, que não soube entender o amor que tínhamos para dar. Mas eu pergunto: será que tínhamos amor para dar para um ser real ou a alguém que criamos na nossa imaginação?

Afetividade é a relação que temos com a realidade, generosidade é aceitar o outro como é, cada um é cada um, amamos o outro justamente porque ele é diferente de nós. Amamos a individualidade do outro, a natureza especial dele. Amar é aceitar o outro incondicionalmente. Mas como posso dizer que amo o outro se não sei amar a mim mesmo? Como posso dizer que aceito o outro como ele é se eu não me aceito como sou?

Afeto tem a ver com uma relação positiva, não tem falsidade ou sedução. Tem a consideração positiva pela existência do outro, o respeito pela verdade dele que é ao mesmo tempo o respeito pela minha verdade.

Tu estás onde te puseste; onde as tuas ilusões te levaram, onde o teu orgulho te colocou. Se quiseres melhorar isso, tem a humildade de reconhecer a realidade. Tem a serenidade de identificar as tuas mágoas, o quanto te colocas nas mãos dos outros, o quanto queres controlar e acabas por te descontrolares. E ainda me vais dizer: “Ah! A minha vida foi difícil, meus pais, a educação que tive, as experiências pelas quais passei...” É, vais lembrar-te do quanto lutaste, do quanto sofreste, das encrencas, das deceções... Como queres seguir em frente se não largas o passado? Como queres que as coisas sejam diferentes se não mudas? As situações são espelhos de nós próprios. Se foram más é porque não éramos melhores. Toda a queixa é uma confissão.

Se quisermos o melhor temos que ir pelo melhor. A humildade verdadeira é encararmos os nossos dramas, o nosso orgulho, perceber o que estamos a bloquear e o que podemos fazer para ficarmos bem. 

Nós deixamo-nos ficar por baixo e depois queremos que o outro nos levante. Gente!!! Não é assim. Eu preciso pôr-me de pé, eu preciso assumir a responsabilidade pela minha felicidade, eu é que tenho que mudar. 

Se quisermos um amor real é preciso encarar a nossa felicidade e a do outro. É um trabalho interior. Ninguém muda ninguém. Nós só mudamos por nós mesmos. Mudamos quando aceitamos a nossa realidade. Se não conseguimos aceitar a nós mesmos, não conseguimos aceitar o outro. Cada um é tão somente aquilo que é. Sem portas fechadas; se está fechada foi porque eu fechei. O coração é uma porta que só abre para dentro.

Gostar é bom, mas exige inteligência, exige disciplina interior. Tudo deve começar por nós. Ninguém dá o que não tem. Não há formas para nos adaptarmos. Não há fórmulas de relacionamentos perfeitos. Primeiro, precisamos acertar as coisas connosco, depois com o outro. Entender os nossos limites para poder entender os limites do outro. Sem isso acabamos por cobrar dele aquilo que não damos para nós mesmos. Ninguém é modelo.
Somos diferentes. A nossa indignação nunca é justa, pois com ela demonstramos a nossa recusa em aceitar a individualidade do outro.

Para de pedir ao mundo o que só tu podes fazer por ti. O outro não é remédio para as tuas dores.

Talvez seja uma tarefa difícil. Talvez não saibas como fazê-la. Então a atitude positiva é procurar ajuda. Que tal investires em ti? 

Quando nos colocamos no bem, tudo fica bem, pois somos a causa de tudo.

CT

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