Para Refletir

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A Fonte e a Alma da Família (Bert Hellinger)

( palavras proferidas por Bert Hellinger durante um curso)
Toda a terapia, como eu a compreendo, tem que ir em direção à fonte. Para cada um de nós, a fonte é, primeiro de tudo, nossos pais. Se nós estamos conectados com eles, estamos conectados com a nossa fonte. Uma pessoa que está separada de seus pais, está separada de sua fonte. Quem quer que esses pais sejam, como quer que eles se comportem, eles são a fonte de vida para nós. Assim, a coisa principal, é que nós estejamos conectados a eles de tal forma, que aquilo que vem deles para nós possa fluir livremente e, através de nós, para aqueles que vêm a seguir.
Quando trabalhamos com constelações familiares, nos é mostrado que estamos conectados a uma força maior. Essa força maior é plena de sabedoria e está ativamente nos dirigindo para uma meta. Nós podemos vê-la numa família. Todos os membros da família agem como se guiados pela mesma força ou pela mesma consciência, como se todos tivessem uma consciência comum. Isto é porque nós estamos conectados com as pessoas do passado que tiveram um destino especial.
Por outras palavras, se, digamos, alguma injustiça foi feita para eles, nós podemos agora estar emaranhados com eles.
Como isto é possível? Como é possível que a injustiça feita para alguém no passado seja tomada por outros membros da família que nunca sequer conheceram essa pessoa? Como pode essa segunda pessoa ser compelida a reparar uma injustiça feita na geração anterior? Tem de haver uma força comum que atua sobre eles.
Eu também tenho a idéia de que nós só podemos viver como seres humanos se estamos conectados todo o tempo com alguma coisa fora de nós.
Qualquer troca com o ambiente tem que ser guiada por alguma coisa que nos une, o ambiente e nós, de tal forma que podemos interagir de um modo integrado. A evolução é movida por uma constante troca, e há uma força que guia, que empurra a evolução para a frente. Esta força maior eu chamo de alma.
Quando eu trabalho aqui, eu tenho que estar em contacto com essa alma maior. Essa alma me guia de tal forma que eu possa estar em sintonia com a outra pessoa. Tão logo eu estou em sintonia, eu posso trabalhar com ele ou ela e fazer exatamente aquilo que é necessário no contexto particular dessa pessoa. Deste modo, eu não estou apenas pensando naquilo que é certo, eu não estou teorizando acerca disto, eu acho os próximos passos necessários, pois estou em sintonia com a pessoa.
A alma tem diferentes dimensões. Aquilo que eu vou falar agora são imagens construídas para apenas tocar uma idéia, não são a verdade em si, mas algumas observações sugerem que se pensamos nesses termos ou imagens, nós compreendemos melhor o que acontece na terapia.
Nosso corpo é mantido unido por uma força comum. Todo o metabolismo é dirigido por algo que sabe aquilo que é correto. Não é uma força cega que dirige o que acontece no corpo. Essa força tem uma direção. Essa força é a alma. A alma mantém os órgãos juntos e os guia de um certo modo, de tal forma que a vida é preservada e continua. Esta é a minha noção de alma com respeito ao corpo.
A família como um todo é também guiada por uma alma comum, a alma da família. Nós podemos ver o quão longe esta alma alcança, nós podemos descobrir a fronteira dessa alma. E assim podemos perceber quem se encontra incluído ou excluído dentro da alma desta família.
Quem pertence à alma da família? Primeiro, as crianças, todas elas. Mesmo aquelas que nasceram mortas estão incluídas. Frequentemente, crianças abortadas, mesmo se foram abortos espontâneos, também são incluídas. A seguir, os pais, seus irmãos e irmãs pertencem a esse grupo, assim como os avós e algumas vezes os bisavós. Esses são os parentes de sangue que são incluídos dentro da alma da família.
Além do mais, há outras pessoas incluídas na alma da família que não são parentes. Aqueles que abriram caminho para que alguém entrasse no sistema. Por exemplo, os parceiros anteriores de um dos pais ou avós, que por sua morte ou divórcio, abriu espaço para uma outra pessoa entrar nesse sistema; nossa própria mãe ou pai talvez, ou nossa avó ou avô. Aqueles que abriram espaço pertencem à família, pois contribuiram para esse sistema em particular.
Como os trabalhos mais recentes têm tornado claro, todas as vítimas que sofreram nas mãos de um membro da família, também pertencem a esse sistema. Eu vou oferecer a vocês um exemplo: em São Paulo, Brasil, nós posicionamos a família de uma mulher, cujo irmão era psicótico e consumidor de drogas. Quando a família foi posicionada, tornou-se claro que ele estava conectado com alguém que não havia sido mencionado, nem lembrado. Ele olhava para fora. Assim sendo, eu perguntei o que havia acontecido nas gerações anteriores. E veio que o bisavô era um latifundiário e tinha escravos. O bem estar da família dependera em grande parte do trabalho e sofrimento desses escravos. Então posicionamos seis representantes para os escravos. Quando eles foram colocados, o representante do jovem homem mostrou um profundo amor por eles. Ele foi até eles, abraçou-os, chorou e sentiu uma conexão muito profunda com eles. Esses escravos pertencem a esse sistema familiar.
Nós também posicionamos o bisavô, ele não tinha nenhuma compaixão pelos escravos e a mãe também não tinha compaixão por eles. E foi esse jovem homem, consumidor de drogas, que estava em conexão mais próxima com eles. Ele era movido pela alma da família. Se há vitimas na família, (por exemplo, na Alemanha, as vítimas do holocausto) é claro que essas vítimas pertencem à família, mas seus assassinos também pertencem ao sistema da família. Isto é mostrado quando posicionamos uma família de sobriventes do holocausto ou seus descendentes. Nessas famílias, um membro freqüentemente tem de representar os agressores. Somente quando os agressores são incluídos, a família pode encontrar paz.
O que significa incluir os agressores? Eles precisam ser amados como seres humanos, nós não podemos excluí-los através de nossas justificativas morais. Eles, também, mesmo que isso nos pareça horrível, estão seguindo suas consciências. Eles estão ligados ao seu grupo e, aquilo que fizeram foi feito a serviço do seu grupo, muito frequentemente com uma boa consciência. Deste modo, eles são, de certo modo, não muito difrentes de suas vítimas. Nós podemos ver nas constelações familiares que as vítimas só encontram paz se os agressores são aceites por elas como iguais. E os agressores só acham a paz se eles se posicionam ao lado de suas vítimas.
Tivemos uma constelação em Buenos Aires, Argentina, há 06 semanas atrás. Havia um homem que disse temer ser, ele próprio, um perigo para suas crianças. Quando ele estava dirigindo, subitamente percebeu que dirigia de maneira descuidada, sem levar em consideração a segurança de seus filhos. Ele temia que pudesse causar sua própria morte e a das crianças num acidente de carro. Ele era um descendente de sobreviventes do holocausto. Deste modo, posicionamos representantes das vítimas e representantes para os agressores. Quando eles foram posicionados, o homem chorava aos gritos, totalmente preenchido de dor, e socava o chão violentamente. Sua energia era a energia de um agressor, mas ele não conseguia olhar para as vítimas. Levou muito tempo para que ele, finalmente, fosse capaz de olhar para elas.
Finalmente ele foi até cada um dos representantes das vítimas que estavam deitados no chão e os abraçou com profundo amor. Ele então, foi até cada um dos agressores e tocou suas faces com amor. Os agressores se tornaram muito mais leves e a constelação terminou. Então o homem sentou-se sozinho por um tempo, eu fui até ele e disse: agora imagine suas crianças na sua frente. Ele as olhou e eu disse: Diga-lhes: Agora eu cuido de vocês. Ele foi capaz de dizer a frase de uma maneira amável e totalmente em contacto com o seu próprio coração.
Vêem como todos precisam ser incluídos no fim? O que isso mostra? Que todos os seres humanos são guiados por uma força que está além deles mesmos. O que quer que uma pessoa faça, seja o bem ou seja o mal, tem que ser visto não apenas como sua própria responsabilidade (embora ela tenha uma certa responsabilidade), tem que ser entendido dentro de uma visão mais ampla, onde atuam forças maiores.
Como devemos lidar com essa força maior? Nós temos que nos curvar diante dela, em profunda reverência e sermos muito humildes. Então, estaremos unidos naquilo que eu chamo, a Grande Alma. Em conexão com esta Grande Alma seremos capazes de fazer o trabalho aqui.

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