Para Refletir

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Vais-te embora


Alguém me disse que te ias embora, mas não era ir e voltar a seguir. Levavas na mão uma mala de viagem e estavas com ar de quem sabia muito bem para onde ir. Não aguentei e fui à tua procura. Ganhei coragem, respirei fundo, e puxei-te para um canto. Tu vais para onde? Respondeste-me o que eu temia ouvir: Tu sabes para onde vou, já devia ter ido há mais tempo. Sem me conseguir reprimir, os meus olhos cobriram-se de água perturbando a visão. Agarrei-me a ti, e, com medo de te perguntar com quem ias, consegui dizer: Vais com ele? Vou. Abraçaste-me e ficámos assim fotografados o tempo apenas necessário. Estavas pronta para ir quando te pedi que ficasses. Respondeste: Não é agora que consigo fazer o que antes não fiz. Deixei-me escorregar pela parede, as pernas a tremer, perdidas as forças que me mantinham em pé. Chorei, chorei tanto. Tu agarraste-me mais uma vez, olhaste-me nos olhos, encostaste-te a mim e beijámo-nos. Talvez tenha sido esse o beijo que não demos na despedida que não tivemos. Eu tinha o coração na boca e chorava como uma criança. Voltaste a abraçar-me e ordenaste: Acalma-te. Eu ainda aqui estou. Eu ainda não parti.

Pedro Paixão

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