A cartilha dos maldizentes foi sempre a hipocrisia.
É comum aos que sentem a fraqueza dos seus próprios argumentos iniciarem atacando a integridade ou honradez das pessoas ou coisas que desejam combater.
Quando alguém é chamado de “hipócrita”, existe sempre uma conotação negativa; porém tenho quase a certeza de que toda a gente já foi hipócrita um dia... Lembrando que o hipócrita nada mais é do que alguém que pensa de uma forma e age ou fala de outra, será que já não teremos todos atingido um nível inicial de hipocrisia (somente para não sermos comparados com alguns políticos que usando essa metodologia atingem o nível máximo).
Por um motivo qualquer, seja ele no trabalho, com alguém que respeitamos muito, um novo amigo, o primeiro encontro com a(o) pretendente… sei lá, mas que acontece, acontece, no meio da conversa a pessoa começa a falar de coisas que não vão de encontro aos nossos pensamentos e então temos três opções: ou ficamos quietos e o assunto morre e isso pode causar um ponto final na conversa; afirmamos os nossos pensamentos e contrariamos tudo, e dependendo do que seja esse "tudo", podemos pôr um ponto final no que diz respeito a conhecer melhor a pessoa; ou mexemos a cabeça de forma positiva e tornamo-nos um hipócrita, pelo menos momentaneamente e assim temos hipótese de expor os nossos pensamentos futuramente.
É a mais pura verdade: nem sempre podemos dizer o que pensamos de imediato; temos de conhecer a pessoa e ir devagar; se não agirmos hipocritamente no começo, em determinadas situações, o caminho pode ser curto e assim perdemos a oportunidade de vir a mostrar que estamos certos, ou pelo menos que não pensamos como ele.
Assim a hipocrisia, por incrível que pareça, faz parte do jogo, não acham?
É mais fácil ver os erros dos outros que os próprios. Espalham-se os defeitos dos outros como palha ao vento, mas escondem-se os próprios erros como um jogador trapaceiro. Se não tivéssemos tantos defeitos, não nos agradaria tanto notá-los nos outros. E se ficarmos a reparar nos defeitos das outras pessoas nunca iremos participar da vida, pois vamo-nos contentar com as nossas desculpas.
Ninguém julga o homem pelo mérito, mas unicamente pelas suas aparências. Às vezes procura-se parecer melhor do que o que se é. Outras vezes, procura-se parecer pior. Hipocrisia por hipocrisia, prefiro a segunda.
Vivemos numa sociedade de vitimização, onde as pessoas sentem-se muito mais à vontade sendo vitimizadas do que erguendo-se sozinhas. Gosta-se muito mais das pessoas quando elas são abatidas por um cerco extraordinário de desgraça do que quando elas triunfam.
Citando Nietzsche, “O homem procura um princípio em nome do qual possa desprezar o homem. Inventa outro mundo para poder caluniar e sujar este; de facto só capta o nada e faz desse nada um Deus, uma verdade, chamados a julgar e condenar esta existência.
Não se esqueça de que se você não contar a verdade sobre si mesmo, não pode contar a verdade sobre as outras pessoas.
Que tempo é o nosso? Há quem diga que é um tempo a que falta amor. Convenhamos que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que era nobre foi degradado. A obsessão do lucro foi transformando o homem num objecto com preço marcado.
A sua grandeza reside nessa denúncia; a sua dignidade, em não pactuar com a mentira; a sua coragem, em arrancar máscaras e máscaras. Ninguém consegue usar máscara por muito tempo.
Para compreender as pessoas devo escutar o que elas não estão a dizer, o que elas talvez nunca venham a dizer.
É muito mais fácil fazer o público acreditar em mentira do que o inverso, pois há verdades que não inspiram confiança.
Infelizmente, a fraternidade é uma das mais belas invenções da hipocrisia social.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
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